domingo, 16 de maio de 2010

Trigésimo primeiro: "Obelisco inacabado"


Nunca uma paixão nos cegou tanto como quanto nos elucidou o verdadeiro amor.

Volve a chama, passa o belo, e logo se sobeja o autista na cumplicidade da sua imaginação. Obsequioso mote para um novo salto na tempestiva viagem das suas metafísicas. Fora pedra petrificada e tenaz, presa a robusto solo. Mas a chegada daquele já familiar busto traz-lhe sempre o mesmo alvoroço inocentemente aprazível, um burburinho cândido que lhe arregaça o frenesim à cobardia, bulício de cores e números. Fitou-lhe os tons laranjas e outra vez partiu. Ai… mas como é que um todo de vermelho e verde, dentro e fora, fá-lo um constantemente lânguido e frouxo e irresoluto homem, de um desfalecimento ingénuo? Nunca soube lidar com as roxas borboletas de bolas amarelas nem com o seu explosivo bater de asas; nunca soube resguardar impulsos ou abster-se de fremidos cânticos de precipitada euforia. Ao olhar que capciosamente se emaranhava no seu, sempre lhe respondeu com indomáveis ímpetos na vã tentativa de se postergar da desditosa verdade que teimosamente lhe lacerava o peito. O crepitar rumorosamente bulia no meu ouvido, o calor ajudava ao fervilhar do desejo.

Dava por si e por ele hoje manhã tarde noite e amanhã. A peleja que travava acrisolava-lhe a genuinidade inconsciente da sua realidade. Era ele próprio e demente. Era ele próprio e poeta.

Take care,
Maria Rebelo