Tu, que andas perdido na indulgência e conforto da rotina; na resignação e comodismo de amores que foram e já não são; despido de borboletas, vazio, desenlaçado, dormente de sorrisos e afetos, descalço a recordar memórias de um passado feliz, ou de coração preso à confusão e relevância que os escassos momentos de regozijo que continuas a partilhar possam significar mais do que o que são; procurando neles resgatar ou compensar-te da ausência de tudo o resto; diariamente sobrecarregado com o fardo da luta, mesmo cansado, para manter a ilusão do que sempre sonhaste ter e não tens; crédulo na esperança de um futuro convalescente que se compadeça com os teus erros, que esborrache e rasure as máculas que vês no outro e te diga, benzendo-te, que tudo pode mudar caso te esforces só mais um pouco... não resistas a aceitar que talvez prefiras novos perfumes; se algum neles tropeçares, encontra e agarra-te às gargalhadas fáceis e espontâneas, ao fervor de olhares ávidos e sedentos de paixão que se retraem, empachados e tímidos, sempre que se entrecruzam com os teus, que te ruborescem as maças de rosto e agitam o teu coração tão fulgurosa e avidamente, que o tempo para, e, no meio de tudo e todos, apenas os olhos e o sorriso dela te faça sentido, ali, calçados nos teus, num infinito de desejo, como um admirável mundo novo à tua espera... Agarra-o sem medo, sem paúra de desiludir alguém, sem pudor ou pejo de olhar para trás e dizer adeus ao templo que já ergueste, sem temor da perda, ou de que o firmamento desabe sobre ti e navegues no caos. Deixa-a desassossegar o teu coração e entrar na tua casa; dá-lhe a oportunidade de veres nela a fuga que antes procuraste para superar a angústia do teu dia-a-dia; deixa-a ser ela agora a âncora que te suporta e te faça acreditar em mais e melhor. Permite-te acreditar que a estrada da tua vida possa mudar apenas à mercê da tua decisão; atreve-te a mudar de direção e confia que a curva para onde escolhes seguir te possa levar a uma nova casa, a novas pessoas, a diferentes sonhos e a encontrar felicidade em coisas que talvez pensaste nunca poder ter, ou sequer merecer. Salta. Por mais fugazes que sejam todos os segundos desse salto, vive-os intensamente, toma-os como teus, porque terão valido a pena.
Após a queda, amarra a dor, faz dela uma pequena pedra que sobrou do tudo que viveste, pois conheceste o real significado do amor.